SOUL CINE PODCAST COM TATIANE FLORESTI

 

1a TEMPORADA - EPISÓDIO 3

TATIANE FLORESTI COMENTA O FILME

"BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS"

 

Neste episódio do Soul Cine podcast, a professora de meditação Tatiane Floresti comenta o filme "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", longa dirigido por Michel Gondry e com trilha sonora de Jon Brion.

 

O filme teve sua estreia em 2004, com diversas premiações em renomados festivais, incluindo um Oscar de melhor roteiro para Charlie Kaufman.

 

Atualmente integra o catalogo de diversas plataformas como Globo Play, Youtube, Apple Tv, Now, entre outras.

 

Agradecemos sua presença e boa sessão!

 

 

 

SOBRE A CONVIDADA TATIANE FLORESTI

 

Professora-facilitadora certificada pelo CEB (Cultivating Emotional balance/Hospital Albert Einstein/Sta Barbara Institute) e praticante de meditação e yoga há mais de 20 anos. Ao longo dessa trajetória se aprofundou em experiências e conhecimentos sobre Alfabetização Ecológica (Ecoliteracy Center/Fritjof Capra), Desenvolvimento Integral (Metaintegral Brasil), formações em Liderança/Antroposofia (Adigo) e Teoria U (Inovação Social com Otto Scharmer), além de inúmeros workshops e retiros de yoga e meditação dentro e fora do Brasil. É mãe do Pedro e da Catarina e co-criou e dirigiu o Instituto Fazenda da Toca, onde trabalhou com uma equipe multidisciplinar para desenvolver uma abordagem própria de educação integral e sustentabilidade (premiada pelo MEC como Escola Inovadora). É sócia co-fundadora na NAU e acredita que o desenvolvimento integral das pessoas pode gerar a construção de um mundo mais compassivo.

 

Conheça mais sobre seu trabalho em www.nossanau.com.br

 

 

 

MIL BRILHOS DE UMA MENTE E VIDA QUE BUSCAMOS

Texto por Bruli Maria

 

Esses tempos atrás, há mais ou menos uns três meses, vi que o filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças tinha chegado ao catálogo de alguns streamings que eu assino, e decidi investigar mais esse filme tão amado pelo público e pela crítica. Assisti ao trailer e li a sinopse... Já sabia sim que era um clássico dos cinemas, mas confesso que eu tinha uma certa preguicinha das atuações caricatas do Jim Carrey em outros filmes (eu olho pra ele e é impossível não lembrar dos filmes de comédia com ele que passavam na tevê quando eu era pequena, e era sempre um medo ou uma sensação estranha que eu sentia ao assistir esses filmes, junto de uma mistura de um palhaço bufão realmente engraçado… mas esse, é o brilho de uma mente com lembranças que eu precisava trabalhar em mim). E eu também tinha um receio de que Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças seria uma obra muito cabeçuda, mental e confusa de se entender.

 

Mas me abri pra experiência, superei a preguicinha do Jim e decidi assistir. E confesso que me surpreendi de uma forma muito positiva. É tudo muito poético, delicado, contemplativo e profundo. A trilha sonora é muito potente, a atuação de Kate Winslet é genial e brilhante, eu diria que ela carrega o filme nas costas. A obra em si traz mensagens muito importantes e relevantes sobre o se relacionar consigo mesmo antes, e depois com o outro a partir de uma mente mais viva e presente. E dá pra observar nitidamente o quanto queremos muitas vezes arrancar ou aniquilar parte daquilo que vivemos, ao invés de acolher nossa história por inteiro e perceber que éramos a versão que podíamos ser naquele momento.

 

Aí achei sincrônico também que, logo depois que assisti, vi que Tatiane Floresti escolheu o filme pra abordar aqui no episódio do podcast do Soul Cine. Ela traz reflexões e um convite muito bonito sobre abarcar-se nos encontros com a mente, observar a nossa meditação (que não necessariamente precisa ser essa meditação caricata em posição de lótus que conhecemos, mas sim um “estar presente” nas ações corriqueiras e extremamente importantes que vão acontecendo na nossa vida), e estar atenta às nossas práticas diárias ao observar inteligências que já nos habitam é um convite valiosíssimo.

 

Eu sou uma pessoa extremamente mental, se você me pedir pra visualizar um vestido de algodão doce com fitas douradas e cristais cravejados envoltos por abóboras que voam, eu facilmente vou visualizá-lo… E entender que a mente funciona muito bem como uma serva das nossas emoções, intuição e sentimentos, e não como uma mestra tem sido um dos exercícios que estou vivificando e praticando no meu momento.

 

Tatiane nos traz reflexões e métodos científicos que podem ser ações fáceis e simples sobre voltar para um lugar mais genuíno quando nos sentimos num turbilhão mental, isso ajuda a nossa mente na hora que ela começa a produzir milhões de histórias que não necessariamente são reais. Eu acho interessante o dado que ela traz no episódio de que não necessariamente estamos vivendo na presença o tempo todo, eu confirmo isso pela minha própria experiência kkkry. Um estudo diz que viajamos muita mais mentalmente durante as horas do nosso dia-a-dia, e talvez isso aconteça porque estamos todas em busca da nossa mente com um brilho e viço, e talvez a realidade em que vivemos não seja o suficiente, até por isso que necessitamos de arte, mitos e cultura pra nos alquimizar e alterar nosso status.

 

E com toda a sua expertise em estudos sobre a mente e como ela funciona, nossa convidada do podcast vai trazendo consciência e ferramentas para trabalhar nossas memórias, ao invés de tentar ocultar as vivencias do nosso dia-a-dia. Para chegar no pico do nosso destino, precisamos checar se estamos tomando a direção certa no mapa, e aí sim, descobrir nossos propósitos e motivações de existência. E uma ressalva que eu trago aqui é que essas motivações e propósitos não necessariamente precisam ser as mesmas que tínhamos há tempos atrás, até porque vamos nos metamorfoseando e nos convertendo ao longo do tempo, nas nossas mil faces de versões que habitam dentro de nós, e não temos o controle de tudo, graças à deusa. Por isso e por outras, permita-se usar o brilho da mente para se questionar e descobrir em si mesma novas formas de enxergar o mundo.

 

Fecho aqui hoje com um pensamento da madame Blavatsky:

 

“A mente é qual um espelho; colhe pó enquanto reflete; são necessárias as suaves brisas da sabedoria da alma para limpar o pó de nossas ilusões. Procura, ó principiante, fundir tua mente e alma”.

Helena Blavatsky

 

Soul Cine Podcast com Tatiane Floresti
poema brilho eterno english.jpg
Poema Alexander Pope
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

 

DE ELOISA PARA ABELARDO

Poema de Alexander Pope

 

 

"How happy is the blameless vestal’s lot!

The world forgetting, by the world forgot.

Eternal sunshine of the spotless mind!

Each pray’r accepted, and each wish resign’d".

 

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O título do filme “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” teve origem no poema “De Eloisa para Abelardo” de Alexander Pope, e tem um trecho declamado no longa pela personagem da Kirsten Dunst. O poema fala do casal que vive um amor proibido, mas são separados e punidos. Eloisa vai viver num convento, de onde escreve uma carta para seu amado.

Neste trecho, Eloisa diz como inveja as outras freiras (daí o uso da palavra ‘vestal”, que eram as sacerdotisas do templo da deusa Vesta no Império Romano), que, tendo renunciado aos desejos mundanos antes mesmo de experienciá-los, não criavam memórias das quais poderiam sentir falta durante a vida reclusa no convento, e por isso, desfrutavam de uma paz de espírito que Eloisa não conseguia acessar.

 

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DE ELOISA PARA ABELARDO

De Alexander Pope (Inglaterra, 1688 – 1744)

Tradução do inglês de Jorge Luis Gutiérrez*

 

(fragmentos)

 

Nesta profunda solidão e terrível cela,

Onde a contemplação celestial do pensamento habita,

E sempre reina a meditação melancólica;

Que significa esta agitação nas veias de uma virgem?

Por que meus pensamentos se aventuram além do último retiro?

Por que sente meu coração este amplo e esquecido calor?

Ainda, ainda eu amo! De Abelardo veio,

E Eloisa ainda deve beijar seu nome.

Querido fatal nome! Restos nunca confessados,

Nunca passarão estes lábios no sagrado silêncio selado.

Ocultá-lo, meu coração, dentro desse disfarce fechado,

Quando se funde com Deus, sua falsa ideia amada:

Ó mesmo não o escrevendo, minha mão - o nome aparece

Logo escrito – a purificação acabo com minhas lágrimas!

Em vão a perdida Eloisa chora e reza,

Seu coração ainda manda, e a mão obedece.

Inexoráveis paredes! Cuja obscura ronda contém

arrependidos suspiros, e amarguras voluntárias:

Vós rochas fortes! Que santos joelhos desgastaram;

Vós grutas e cavernas inalcançáveis com horríveis espinhas

Santuários! onde as virgens mantiveram seus pálidos olhos,

E a tristeza dos santos, cujas estátuas aprenderam a chorar!

 

Embora frio como você, imóvel, em silêncio crescente,

Eu ainda não me esqueci como pedra.

Nem tudo está no céu enquanto Abelardo tem parte,

Ainda a natureza rebelde mantém a metade de meu coração;

Nem a oração nem os jejuns acalmaram seus impulsos persistentes,

Nem as lágrimas, ou a idade, o ensinaram a fluir em vão.

 

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Como é imensa a felicidade da virgem sem culpa.

Esquecendo o mundo e o mundo esquecendo-a.

Eterno resplendor de uma mente sem lembranças!

Cada oração aceita e cada desejo realizado;

Trabalho e descanso mantidos em iguais períodos;

Obedientes sonhos dos quais podemos acordar e chorar;

Calmos desejos, afetos sempre furiosos.

Deliciosas lágrimas, e suspiros que boiam no paraíso.

Graça que brilha a seu arredor com raios serenos.

O murmúrio dos anjos arrulha seus sonhos dourados.

Por sua eterna rosa que floresceu no Éden.

E as asas dos serafins derramam perfumes divinos,

Para ela, o esposo prepara o anel nupcial,

para ela as brancas virgens cantam a canção da boda,

e ao som das harpas celestiais ela morre

e se desfaz em visões do dia eterno.

 

 

*JORGE LUIS GUTIÉRREZ. Atualmente é professor da Universidade Mackenzie e professor da Faculdade de Filosofia de São Bento. Especializou-se em filosofia antiga. É doutor e Mestre em Lógica e Filosofia da Ciência pela UNICAMP. Tem pesquisado, em diálogo com a física, temas como o acaso, a imprevisibilidade, a incerteza, a irreversibilidade e a liberdade humana. E em diálogo com a literatura, tem pesquisado as relações entre filosofia e poesia. É autor dos livros: “Fragmentos de Ternura, Filosofia e Desterro”, “Aristóteles em Valladolid” e “Inundada de Luz, poemas de amor e filosofia episódica”. É o editor da revista eletrônica "Pandora Brasil". E foi um dos organizadores do livro “Educar para a vida inteira” (Editora, Alínea, 2011). Curriculum Lattes: http://lattes.cnpq.br/8105914938404468

 

Revista Pandora Brasil – Traduções - ISSN 2175-3318 Revista de humanidades e de criatividade filosófica e literária