SOUL CINE PODCAST COM MONJA COEN

 

1a TEMPORADA - EPISÓDIO 1

MONJA COEN COMENTA O FILME "ZEN: A VIDA DO MESTRE DOGEN"

 

No episódio do Soul Cine podcast de hoje, Monja Coen comenta o filme “Zen: A Vida do Mestre Dogen”, longa com direção de Banmei Takahashi e com trilha sonora de Haseo Nakanishi e Ryudô Uzaki.

 

O filme teve sua estreia no Japão em 2009 e atualmente pode ser visto no site Olhar Budista ou no Youtube.

 

Agradecemos sua presença e boa sessão!

 

 

Assista ao filme gratuitamente no site:

 

POR UMA EXPERIÊNCIA GUIADA

Texto por João Neto

 

Se o filme Zen: A Vida do Mestre Dogen (2009) oferece uma possibilidade de conhecer um pouco mais sobre o budismo, ou pelo menos uma parte importante dele, ao ter alguém como Monja Coen tecendo comentários sobre o longa torna a experiência muito mais profunda. Os anos de estudo, a sabedoria e, principalmente, a humildade em ceder tempo e compartilhar seu conhecimento sobre o assunto transformam a ótica com qual se aprecia a obra.

 

Comentando gradativamente cada uma das passagens, seus significados e contextualizando com o outras questões pertinentes do momento retratado, Monja Coen ocupa um papel de guia. Vale dizer que não é simplesmente uma guia que se coloca como detentora de todo possível conhecimento do que nos é apresentado, mas que encontra nesse espaço uma construção coletiva dos saberes do que assistimos. Suas ponderações e notas ilustrativas são sempre convidativas a uma reflexão que zela pelo ato de compartilhar.

 

Se numa primeira visita meu olhar encontrou mais facilmente as questões ligadas a simplicidade, com essa nova experiência oferecida em nosso episódio inaugural do podcast, os horizontes se ampliam para outros pontos de interesse, agora embasados por quem vive e estuda a doutrina. É como se a partir do filme e seu enredo, a nossa convidada levasse alguns dos tópicos para zonas de interesses complementares. Então temos o filme desdobrado em uma conversa instrutiva que dilata pontos importantes, sem perder a noção de coletividade para coparticipação na decomposição do filme. Claro, ainda estamos falando de um podcast, o que pode soar um tanto unilateral, entretanto, o papel de nossa guia não abstrai as lacunas que devem ser preenchidas por vocês, nosso público, nessa interpretação e relacionamento com o filme.

 

Enfim, Monja Coen faz dentro de uma hora de episódio uma verdadeira caminhada rumo ao estímulo de conhecer e não apenas o longa, mas a doutrina como um todo. Difícil não se pegar interessado pela mudança de perspectiva proposta.

Um bom episódio para vocês.

Soul Cine podcast com Monja Coen
Zen
Zen: a Vida do Mestre Dogen
Zen: a Vida do Mestre Dogen

 

ZEN: A VIDA DO MESTRE DOGEN

Resenha por João Neto

 

EM BUSCA DE UM VIVER VERDADEIRO POR CAMINHOS DIVERSOS: QUANDO A SIMPLICIDADE FÍLMICA É UMA SOLUÇÃO

 

A experiência com uma crítica, por natureza, deve ser a de prolongamento, uma extensão do contato com o filme. Mais do que julgar simplesmente os atributos a partir de uma métrica questionável, que divide as obras entre boas ou ruins, o papel do crítico é viabilizar que o seu público veja outras possibilidades para além de uma visão limitadora. Então a proposta aqui é menos de julgar qualidades técnicas, reduzindo o trabalho meramente a uma apuração da forma como a linguagem cinematográfica foi empregada, e mais de desenvolver um olhar que privilegia essencialmente a maneira como se constrói a mensagem central. Assim, ao assistir Zen: A Vida do Mestre Dogen (2009) foi possível perceber algo um tanto quanto inusitado: mais do que o interesse por um apuro técnico, o filme se empenha em transferir as qualidades dos ensinamentos de simplicidade para sua própria realização. Sem os preciosismos e uso de artifícios, é uma obra consciente da clareza de suas escolhas.

 

Relatando a vida de um dos maiores filósofos do zen-budismo, o filme acompanha Dogen Zenji, ilustrando os momentos mais cruciais de sua jornada na terra. Tendo perdido cedo seus pais e lidando com o desejo de sua mãe de que ele pudesse se tornar um monge e vivesse em função do bem de todos, Dogen procura colocar em prática os ensinamentos da vida monástica, ao passo que também quer encontrar uma possível “evolução” para tais conhecimentos. Sua trajetória é marcada pelas questões políticas e sociais do período retratado, uma vez que o protagonista transita entre Japão e China para encontrar sua filosofia.

 

Existem dois elementos muito importantes que são fundamentais para a história que se conta. O primeiro deles é a insatisfação, um sentimento que vai acompanhar o protagonista durante toda sua jornada e, de certa forma, moldar aquilo que o guia. O segundo, agora misturando tanto o enredo como a forma fílmica, é a modéstia com que tudo é pensado e executado. Se a trama é elaborada como uma trajetória despretensiosa que leva o personagem do ponto A ao ponto B, numa peregrinação de autoconhecimento e iluminação, o filme todo é executado com essa mesma desambição. Com pouquíssimos movimentos de câmera, enquadramentos e decupagem de cada uma das cenas realizados com simplicidade homogênea, as duas instâncias se assimilam e dão conta de transmitir uma mesma mensagem.

 

O desapego em contar o que se quer sem recorrer a uma estilização rebuscada, o que pode ser tanto mérito do diretor quanto simples falta de habilidade, serve muito bem ao conjunto da obra. Se Dogen vive num processo de evolução que leva inevitavelmente para o impoluto e sóbrio, o filme de maneira mais geral se estabelece dentro dessa chave descomplicada. É como se essas duas camadas se espelhassem a fim de dar uma unidade para o todo. Existem poucos momentos em que se recorre ao uso de elementos que destoam da abordagem, mas que estão inseridos mais como uma ilustração do que necessariamente como avidez de estilizar sua narrativa.

 

Por fim, com seu ritmo mais lento e menos usual que, mais uma vez, se conecta intimamente com a proposta do trabalho, cria a coesão necessária para transmitir a partir das suas escolhas formais uma ideia sólida. Mais do que contar uma história de maneira genérica, o longa encapsula em todas as suas diretrizes um meio orgânico que faz da simplicidade sua maior virtude. Aquilo que se prega e busca claramente a partir da figura do protagonista é visto ressoando nas demais camadas do filme.

 

Aceitar essas escolhas é, também, aceitar o que foi construído por Dogen em seus ensinamentos.