SOUL CINE PODCAST COM PÚBLIO VALLE

 

1a TEMPORADA - EPISÓDIO 2

PÚBLIO VALLE COMENTA O FILME "O CONTO DA PRINCESA KAGUYA"

 

Neste episódio do Soul Cine Podcast, o professor de yoga e meditação Públio Valle comenta o filme “O Conto da Princesa Kaguya”, animação do Studio Ghibli dirigida por Isao Takahata e com trilha sonora de Joe Hisaishi.

 

O longa teve sua estreia em 2013, com diversas premiações em festivais de todo o mundo, incluindo uma indicação ao Oscar de melhor animação.

 

O filme estreou nos cinemas brasileiros em 2015, e atualmente integra o catálogo da Netflix.

 

Agradecemos sua presença e boa sessão!

 

 

 

 

SOBRE O CONVIDADO PÚBLIO VALLE

 

Pós-graduado em Yoga Terapia pela Swami Vivekananda University em Bangalore, Índia, onde trabalhou em um hospital de yoga por um ano. Ainda na Índia fez diversos treinos de meditação em várias linhagens, e concluiu o curso de Psicologia Indiana realizado pelo IPI em Pondicherry. Durante dois anos trabalhou voluntariamente como gestor do Projeto Alice, uma escola que se dedica a ensinar meditação para crianças com base em ensinamentos tibetanos, e que tem como patrono o Dalai Lama. Na Birmânia, estudou meditação no monastério Pa Auk. Foi residente de Nazaré Uniluz e trabalha em um centro internacional de retiros em Iquitos, no Peru, dando aulas de Yoga e Meditação para pessoas de todo o mundo. Seu trabalho atualmente se concentra no campo da terapia assistida por plantas sagradas, tendo se formado na abordagem "Compassionate Inquiry" com o Dr. Gabor Maté.

Públio possui um profundo comprometimento em compartilhar os ensinamentos dessas ciências milenares de Yoga e Meditação, com o intuito de promover saúde e bem estar físico, emocional e espiritual.

 

Conheça mais sobre seu trabalho em www.publiovalle.com

 

 

TUDO É UMA QUESTÃO DE PERSPECTIVA

Texto por João Neto

 

Yoga é uma maneira muito intensa de propor a união entre corpo, mente e espírito, como uma forma de encontrar e se conectar com sua essência. Públio Valle entende muito sobre isso e esse conhecimento proporciona uma análise como a dele para O Conto da Princesa Kaguya (2013). Levando em consideração todas as nuances do filme de Isao Takahata, Públio analisa as questões propostas para a obra, num diálogo que amplia o escopo do que presenciamos e como absorvemos essas questões.

 

Sua formação tem um peso inquestionável para seu entendimento de pontos sensíveis e que, sem essa bagagem, muito provavelmente passariam batidos. Públio faz um exercício de investigação que debate e explicita os detalhes da jornada de nossa protagonista, tendo sempre em vista o contexto cultural e religioso sem o qual o filme não existiria. O ímpeto de levar a discussão para um campo menos rígido do ponto de vista de pautar a obra apenas por um vislumbre superficial, é fundamental para que se compreenda o trabalho em sua totalidade.

 

Se o arco dramático de Kaguya se sobrepõe às propensões pitorescas da animação, nosso convidado privilegia essa argumentação, voltando seu olhar para os propósitos das disputas internas que vão afunilando o desenvolvimento temático do filme. A insatisfação, os pequenos episódios que vão potencializando o descontentamento da jovem princesa, são esmiuçados com o olhar que tenta encontrar o sentido para os percursos tortuosos e que levam a personagem por um caminho insólito.

 

Públio é responsável por dar mais que apenas um atestado da qualidade do longa, ele fornece ferramentas para observar com cuidado e delicadeza uma obra que é cercada dessas qualidades e outras mais.

 

Bom episódio.

 

Soul Cine Podcast com Públio Valle
Soul Cine Podcast com Publio Valle
O Conto da Princesa Kaguya
Soul Cine Podcast com Publio Valle

 

SOBRE VIVIFICAR NOSSA NATUREZA MAIS GENUÍNA

Texto por Bruli Maria

 

O episódio do podcast do Soul Cine sobre o filme O Conto da Princesa Kaguya me deu um aconchego muito que bem dado e o acolhimento que eu andava buscando! Sabe aquele quentinho no coração e a sensação de que os planetas se alinharam pra eu escutar num momento que eu realmente estava precisando?

 

Primeiro porque escutei na noite após o lançamento, depois de chegar muito cansada de um dia intenso de trabalho em São Paulo. Pisei na minha casinha aqui no meio da mata atlântica e dei o play sabendo que tinham muitas pílulas de sabedoria ali que eu precisava escutar ou mesmo me relembrar, com atenção, amor e carinho. Mesmo fazendo parte da equipe do podcast, a gente aproveita pra desfrutar de todos os ensinamentos que existem nesse material que estamos oferecendo ao mundo, e eu espero que você possa desfrutar também.

 

Segundo, porque eu amo o Públio, somos cria da mesma escola de autoconhecimento chamada Nazaré Uniluz. Moramos lá, em épocas diferentes mas tive o privilégio de conviver um pouquinho com ele e mantemos uma relação de amizade que eu admiro e que quero cultivar por toda uma vida. Eu tenho a sensação de que essa pessoa querida tem um super lugarzinho dentro do seu coração, e que ele, Públio, tem uma sabedoria nata, uma delicadeza e beleza ao enxergar a vida que encanta demais. Um ser humano que é pura poesia e que sempre te traz, consciente ou não, uma reflexão para o momento de vida que você está vivendo. Sempre bebendo dos seus ensinamentos da yoga, taoísmo, da sabedoria de nativos e da sua própria experiência de vida e histórias que ele conta! Que aliás, são fascinantes.

 

Públio nos convida a descobrir motivações internas que podem ajudar a vivificar nossa natureza mais verdadeira e genuína.

Eu ainda não vi o filme, mas o episódio me abre os olhinhos e dá uma vontade imensa de assistir ao longa, ainda mais quando eu escuto que se trata de uma narrativa onde a princesa questiona se essa realidade em que ela vive é real ou não (isso bate muito de frente com alguns questionamentos particulares que eu tenho).

 

E ao mesmo tempo, descubro que tenho um pouco de Kaguya, que no decorrer de sua jornada ela vai se desenvolvendo, descobrindo a maturidade, aprendendo lições e respondendo ao mundo do jeito que ela sabe lidar, e essa é uma tarefa muito interessante: ao invés de tentarmos descobrir fórmulas mágicas de viver a vida, que não têm nada a ver com a nossa relação com o mundo, podemos fazer uma investigação profunda e sincera e descobrir nossas motivações interiores que são as joias mais raras, preciosas e únicas que nos fazem viver a nossa história de fato, como protagonistas.

 

E terceiro e último motivo, é a minha relação com Lívia Rojas, idealizadora e realizadora do projeto Soul Cine, qual temos uma relação de amizade e parceria muito bonita, sincera e especial. É muito interessante e maravilhoso perceber que Liv e Kaguya têm muitos aspectos em comum, principalmente quando eu vejo os olhinhos de realização na minha amiga ao desbravar com tanto afinco e afeto esse projeto, e a sensação de que ela está pingando gotinhas de consciência nesse vasto oceano chamado mundo, que cá pra nós, está precisando de muito cuidado, amor e respeito.

 

Soul Cine Podcast com Publio Valle
Soul Cine Podcast com Publio Valle
Soul Cine Podcast com Publio Valle
Soul Cine Podcast com Publio Valle

 

O CONTO DA PRINCESA KAGUYA

Resenha por João Neto

 

PORQUE NÃO APENAS DE MIYAZAKI VIVE O STUDIO GHIBLI E NOSSOS CORAÇÕES 

 

Lançado em 2013, O Conto da Princesa Kaguya adapta o conto japonês O Cortador de Bambu, que data do século X. E bem, apesar de ser um produto muito bem-acabado na tradição dos filmes Ghibli (uma trama que está envolta simbolismo e um mundo vívido e imaginativo) temos aqui menos uma aventura inusitada e mais um trabalho que se volta para uma jornada interna de aceitação e autodescoberta.

 

Isao Takahata, um dos fundadores do estúdio, dirige aqui seu último trabalho. Menos conhecido no ocidente, mas igualmente cultuado por suas obras, Takahata elabora a partir do conto uma proposta que se aprofunda muito mais em sua protagonista. Acompanhamos o crescimento de Kaguya conhecendo intimamente seus sentimentos em cada uma de suas fases, suas descobertas e insatisfações que marcam sua trajetória.

 

Uma história aparentemente simples, mas complexa, primorosa. Isso é embalado numa escolha que traduz a simplicidade a partir do estilo de animação adotado, privilegiando o desenho em 2D que suas nuances, combinadas ao uso de cores que vão destacar aquele mundo, principalmente o branco, tornam palpáveis a sobriedade manifesta. Acontece que esse está posto nessa primeira camada, talvez como um meio de propor uma relação mais agradável e menos afetada com o público, que ao mesmo tempo funciona como uma porta, um convite para as discussões presentes. Existem aqui essas duas forças, a da simplicidade visível e o debate devoto a questões maiores, que encontram o equilíbrio a partir da narrativa que dosa muito bem os conceitos em sua abordagem.

 

Então o filme alcança questões interessantes que vão desde o processo de inconformidade, das dificuldades da protagonista em se adequar dentro de tradições e expectativas, enquanto pulsa um desejo incessante que pede pela felicidade despretensiosa, até a entrega final a um desses meios. Cabe nessa jornada o olhar que vaga entre os processos de busca pela felicidade, que acabam sendo pautados ora pela vontade genuína, ora pela necessidade de atender demandas externas. E esse acaba sendo o grande arco de nossa protagonista.

 

Apesar de todos os elementos fantasiosos que demarcam muito bem o legado do estúdio, o filme não vislumbra as potencialidades imaginativas que a animação oferece. Na verdade, isso surge como um complemento, mas nunca é de fato o motor que mantém a história funcionando: são as disputas internas e impossíveis de ignorar que farão de Kaguya um ponto fora da curva. O investimento emocional em presenciar seus sentimentos, suas frustrações e pequenas alegrias vão dimensionar o impacto de sua passagem pela Terra e tudo aquilo que se propõe a debater.

 

O Conto da Princesa Kaguya talvez possa até se misturar com outros trabalhos do estúdio quando visto de longe, mas, caso observado de perto, faz-se impossível de ignorar as evidências que atestam: há muito aqui para se ver, mais até mesmo do que se espera na tradição Ghibli.